quinta-feira, 23 de março de 2006

Da batota

Ainda antes do jogo da meia-final da Taça de Portugal entre o meu FCP e o Sporting, tive a oportunidade de escrever isto.
O fenómeno desportivo em geral, e o futebolístico em particular, é um potencial gerador de paixões assolapadas, provocando, por muito que se evite, o domínio da emotividade sobre algum resquício de racionalidade. A paixão é isso mesmo: febril, descontrolada, avassaladora e potenciadora de conflitos internos e externos.
Ontem, pude assistir a um paupérrimo jogo de futebol. Confesso que, no cômputo geral, o Sporting foi prejudicado pela arbitragem de um árbitro que nunca me mereceu admiração – aliás, dos nacionais, não me lembro do último que ma mereceu.
O Sporting perdeu bem? Não me consigo alhear da minha qualidade de fundamentalista azul-e-branco. Para mim, num paroxismo de paixão, o meu Porto perde sempre mal. Normalmente, faço um meticuloso exercício de espanta-espíritos para encontrar um bode expiatório.
Porém, eu, portista, me confesso: o FCP não jogou bem, o árbitro prejudicou o Sporting na eventual grande penalidade – e o eventual resulta da dúvida do lance se ter desenrolado dentro ou fora da área. As expulsões foram exageradas: o árbitro poderia ter contemporizado no 1.º caso – o do Caneira – uma vez que com 115 minutos de jogo nas pernas, o discernimento não é o melhor – e isso é do senso comum, tendo sido cientificamente comprovado. A 2.ª expulsão – a de Bosingwa – foi completamente disparatada, porque Tello atira-se para o chão na quina da área e Bosingwa nem de raspão lhe tocou. O acto irreflectido do árbitro no minuto 119 provocou a marcação de um livre directo a cerca de 2 metros da linha limite cimeira da grande área. João Moutinho marcou o livre e Vítor Baía efectuou uma grande defesa – desta vez, felizmente, não confiou no golpe de vista – e a jogada gerou um canto a favor do Sporting. Agora pergunto: e se Vítor Baía – como é costume – não se fizesse ao lance e a bola se tivesse postado no fundo da baliza? Que comentários haveria ao jogo e ao trabalho árbitro?
O que eu lamento – e estou a ser o mais sincero possível – é ver textos escritos por pessoas, que não conheço, mas que estimo e aprecio pela forma como conduzem os seus blogues, a escreverem, a quente, comentários profundamente injustos, tendo como alvo um conjunto perfeitamente heterogéneo de pessoas que se unem em torno de uma paixão clubística. Um dos quais foi José Pimentel Teixeira (JPT) no seu blogue
Ma-Schamba, ao qual tive a oportunidade de manifestar a minha discordância in loco, fazendo, também, um mea culpa pela agressividade que coloquei nos meus dois primeiros comentários a este texto – ver, também, este segundo texto.
Não, eu não me revejo nos elementos desordeiros dos Super Dragões. Abomino-os, tal como abomino os seus similares noutras claques de outros clubes. Como aqueles que antes de um SCP-FCP, no pretérito Estádio de Alvalade, arremessavam pedras ao Dr. Domingos Gomes e ao Rodolfo Moura quando estes assistiam vários jovens que se haviam estatelado da altura de 2 dois andares após a queda de um varandim, incidente do qual resultaram mortos.
Não, eu não me revejo nos dirigentes e nas suas tentativas de apagamento de fogos com gasolina. Detesto-os e sem distinção.
Não, eu não gosto de batota e detesto ganhar com manifesto prejuízo do adversário causado por terceiros na tarefa de julgar.
Aquilo que, na realidade, me faz vibrar e rejubilar passou-se em 27 de Maio de 1987, ou em 13 de Dezembro de 1987, ou em 23 de Maio de 2003, ou em 26 de Maio de 2004, ou em 12 de Dezembro de 2004.

PS – Este blogue sofrerá de uma pausa para reflexão sobre a sua continuidade até sábado, 25 de Março.

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