quarta-feira, 31 de maio de 2006

Fiat Lux #1: Inventar a Solidão

Intróito
Inventar a Solidão, é uma obra autobiográfica constituída por duas partes distintas, porém complementares: na primeira parte, “Retrato de um homem invisível”, fala-nos da morte do pai, partindo para a descoberta da história do início da aventura americana da sua família judaica, onde descobre a ocorrência de um estranho crime... Na segunda parte, “O Livro da Memória”, fala-nos da sua peregrinação pelo mundo das letras, da própria origem da sua linguagem e da sua solidão de escritor. É um ensaio sobre a arte de escrever em que o eu e a envolvente jamais se separam do produto final. Auster parte de Lícofron de Cálcis – que inspira o título da obra – a Pascal ou Hölderlin, de Freud a Duke Ellington, Proust, Rimbaud, colloni, kierkegaard leibniz, etc.

«Um dia há vida. Um homem, por exemplo, de perfeita saúde, nem sequer velho, nenhuma história de doenças. Tudo está como sempre esteve, como sempre estará. Ele passa de um dia ao outro, não se ocupa de outra coisa senão dos seus assuntos, sonha apenas com a vida que tem à sua frente. E então, de súbito, acontece que há morte. Um homem solta um pequeno suspiro, afunda-se na sua cadeira, e é a morte. O Carácter súbito desse facto não deixa o menor espaço ao pensamento, não dá à mente a menor hipótese de procurar uma palavra capaz de a confortar. A única coisa com que ficamos é a morte, o irredutível facto da nossa própria mortalidade»
Paul Auster, “Retrato de um homem invisível”, em Inventar a Solidão, Asa, 2.ª Edição, Julho de 2004, pág. 11
[Tradução João Vieira de Lima] (The invention of sollitude, 1982)

«Põe uma folha em branco na mesa à sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta. Foi. Nunca mais voltará a ser.
Mais tarde, nesse mesmo dia, volta ao quarto. Pega noutra folha e põe-la na mesa à sua frente. Escreve até encher de palavras toda a página. Mais tarde, quando relê aquilo que escreveu, tem dificuldade em decifrar as palavras. Aquelas que consegue compreender não parecem dizer aquilo que ele pensava que estava a dizer. Depois, sai para jantar.»
Paul Auster, “O Livro da Memória”, idem, pág. 87
Idem

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