quarta-feira, 31 de maio de 2006

Fiat Lux #3: Palácio da Lua

Intróito
Uma das obras mais dilacerantes de Auster. Conta as desventuras e as atribulações de um jovem cuja indelével linha da sua existência se afasta, pela inércia de um perene estado de desalento, do rumo que à partida fora esboçado e que se inicia na Columbia University. Chama-se Marco Stanley Fogg, nome que lhe marca um destino de peregrinação. Marco como Marco Polo, o primeiro europeu a chegar à China; Stanley como o famoso explorador americano de origem galesa Henry Morton Stanley que parte em busca do Dr. Livingstone e o encontra no coração de África; e Fogg do personagem aventureiro Phileas Fogg criado por Júlio Verne em A Volta ao Mundo em 80 Dias.

«Foi no Verão em que os homens pisaram a Lua pela primeira vez. Eu era muito novo nessa altura, mas não acreditava que, na verdade, houvesse futuro. Queria ir o mais longe possível, viver perigosamente e, quando lá chegasse, ver o que acontecia. Como veio a verificar-se, quase não cheguei lá. A pouco e pouco vi o meu dinheiro desaparecer, até não ficar nenhum; fiquei sem o apartamento; acabei a viver na rua. Se não fosse uma miúda chamada Kitty Wu, talvez tivesse mesmo morrido de fome. Tinha-a conhecido por acaso, pouco antes, mas acabei por encarar essa oportunidade como uma manifestação de boa vontade, um modo de me salvar através da vontade dos outros. Isso foi a primeira parte. Depois trabalhei para o homem da cadeira de rodas. Descobri quem era o meu pai. Atravessei o deserto a pé, desde Utah até à Califórnia. Foi tudo há imenso tempo, é claro. Mas lembro-me sempre muito bem desses tempos. Considero-os o começo da minha vida.»
Paul Auster, em Palácio da Lua, Presença, 3.ª Edição, Agosto de 2000, pág. 11
[Tradução de Rui Wahnon] (Moon Palace, 1989)

Sem comentários: