sábado, 26 de agosto de 2006

Frases iniciais exemplares (v. beta #35 a #40)

Aqui vai mais uma boa dose de frases de abertura de obras literárias, incluindo a do Luís Mourão que já se encontrava, desde a passada quinta-feira, no ficheiro Word, em conjunto com outras citações enviadas por outros contribuidores, para depois se proceder ao habitual copy/paste para a plataforma do Blogger.
Luís, nunca discordei da sua questão “de nenhuma frase inicial ser realmente exemplar se não revelar a exemplaridade de um nome de autor”. Aliás, afirmei categoricamente que um dos trabalhos mais difíceis de um jurado – caso a seriedade deste exercício, meramente lúdico-literário, a isso obrigasse – consistia na capacidade de dissociação da frase inicial da obra de ficção do seu emérito autor – veja-se a lista da ABR e atente-se, por exemplo, nos dez primeiros nomes: Melville, J. Austen, Pynchon, García Márquez, Nabokov, Tolstoi, J. Joyce, Orwell, Dickens e R. Ellison.
Muito poderia ser acrescentado a este debate deveras interessante, todavia faltam-me as habilitações literárias necessárias – entenda-se por especializadas – para discutir Literatura acima do nível de “apenas amante”.
Há autores que perduram e outros que, justamente ou não, caem pela punição do olvido.

Em suma, 40 frases, 25 resultaram do contributo da blogosfera (de 17 blogues diferentes).
Obrigado pelo contributo e só espero que vos tenha dado tanto prazer em lê-la e/ou ajudá-la a construir como eu tive em receber e publicar as Vossas citações.
Parafraseando o
Pedro, que deve ter sido pago ou então é accionista da dita empresa para proferir a dita frase: Há coisas fantásticas, não há!?


#35, contribuição de Henrique Fialho, do blogue
Insónia:
«Assola o país uma pulsão coloquial que põe toda a gente em estado frenético de tagarelice, numa multiplicação ansiosa de duos, trios, ensembles, coros.»
Mário de Carvalho, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina

(Caminho, 1.ª edição, Novembro de 2003, pág. ?)

#36, contribuição de Pedro Vieira, do blogue
irmaolucia:
«Quando o canalizador Joseph Bloch, que tinha sido um conhecido guarda-redes, se apresentou ao trabalho uma manhã, soube que fora despedido.»
Peter Handke, A angústia do guarda-redes antes do penalty

(Relógio D’Água, 1987, pág. 9; Tradução de Maria Adélia Silva Melo; Obra Original: Die Angst des Tormanns beim Elfmeter, 1970)

#37, contribuição de uma leitora via correio electrónico:
«Não se escreve melhor porque se escreveu muito. Às vezes, vou surpreender nas páginas antigas assinadas pelo meu punho um tom perfeito em que a imaginação ronda como uma madrinha incapaz de envelhecer e de perder a razão. A razão é a mesma, a coberto das longas provações das decepções, da experiência, de tudo.»
Agustina Bessa-Luís, Jóia de Família

(Guimarães, 5.ª edição, Novembro de 2002, p. 7)

#38, contribuição de Mónica Granja, do blogue
Linha do Norte:
«Cannery Row, em Monterey, na Califórnia, é um poema, um fedor, uma estridência, uma gradação de luz, um som, um vício, uma nostalgia, um sonho.»
John Steinbeck, Bairro de Lata

(Verbo, 1972, pág. ?; Tradução de Luísa Maria de Eça Leal; Obra Original: Cannery Row, 1945)

#39, contribuição de Luís Mourão, do blogue
Manchas:
«De avô a bisneto, os Gastões conquistaram toda a Azinheira e passaram para lá do rio, para depois perderem até o que não tinham. Foi só então que se soube que mesmo o nome era usurpado: eram Oliveira, de origens obscuras e misturadas, nascidos decerto em desterro e temperados pela maldição.»
Jerónimo Bemposto, Terras altas (1969)

(Nota: como
aqui foi referido, não foi encontrada qualquer referência bibliográfica ou sequer biográfica do autor justissimamente esquecido)

#40, contribuição de Sérgio Lavos, do blogue
Auto-Retrato:
«Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia.»
Albert Camus, O Mito de Sísifo

(Livros do Brasil, 1.ª edição, Setembro de 2005, pág. 15; Tradução de Urbano Tavares Rodrigues; Obra Original: Le mythe de Sisyphe, 1942)
Nota: Esta obra é um ensaio de Albert Camus, logo fugiu ao critério estabelecido na construção da lista. Todavia, dada a eminência do autor – também romancista –, já citado pela sua obra O Estrangeiro pertencente ao ciclo do absurdo do qual este ensaio faz parte, julguei fundamental a sua citação no conjunto das frases iniciais exemplares. Daqui por diante estabelecer-se-á relativamente às obras de não-ficção um critério casuístico*.

*escrito ontem, após adicionar a citação de Camus sugerida pelo Sérgio Lavos. Terminou em beleza!

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