sábado, 5 de agosto de 2006

Kerouac on Hesse

Jack KerouacO João Gonçalves, um dos meus bloguistas lusos de leitura diária – ou horária – imprescindível, colocou no Portugal dos Pequeninos – o João, com a sua argúcia de homem das artes e letras, é um notável, cativante e gracioso indutor de excitações na blogosfera – um excerto do posfácio de Lolita de Nabokov onde este, do alto da sua sapiência académico-literária, exprobra o grande – é pouco, eu sei! – Thomas Mann – também Honoré de Balzac e Máximo Gorki – e a sua literatura de um acervo de lugares-comuns em enormes blocos de gesso que, mais tarde ou mais cedo, serão desfeitos à martelada; confessando-se, nas entrelinhas, artisticamente enfastiado com a falta de estética – ou de gozo estético – das suas obras.
Sinceramente, não acredito que Nabokov se tenha quedado indiferente perante a perfeição e o assombro estéticos da pequena obra-prima A Morte em Veneza, facto que até seria agravado por se tratar de um professor de literatura. Já para nem falar nas obras colossais – em tudo mesmo – como Doutor Fausto ou A Montanha Mágica.

Assim, à laia de apagador de fogo com gasolina, onde nem sequer faltam uns atritos com chispa de author on author, deixo aqui uma brevíssima opinião do expoente máximo da Beat Generation, Jack Kerouac, sobre, tal como Mann, o também Nobel e alemão Hermann Hesse:

«Passo noites inteiras simplesmente a meditar na utilidade daqueles pequenos esfregões de palha de aço [sic], aqueles pequenos objectos de latão amarelo que se compram nos supermercados a dez cêntimos, infinitamente mais interessantes a meus olhos do que essa porcaria de romance, O Lobo da Estepe [sic], estúpido e absurdo, que eu leio com um encolher de ombros porque o velho cretino que o escreveu personifica o “conformismo” dos nossos tempos mas julgava-se um grande Nietzsche, velho imitador de Dostoievski com cinquenta anos de atraso (ele sente-se atormentado naquilo a que chama um “inferno pessoal” porque não partilha os gostos das outras pessoas!)»
Jack Kerouac, Big Sur
(Relógio D’Água, Maio de 1999, pág. 41; Tradução de Paulo Faria; Obra Original: Big Sur, 1962)

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