sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Auto-ironia

Já se disse, por essa blogosfera fora, que uma boa frase inicial não faz o bom romance, e que a frase inicial reputada de exemplar resulta quase sempre da notoriedade do autor, como arreigado preconceito das capacidades humanas, mesmo que subliminares, de assimilação e de mimetismo das tendências ditadas pela moda literária, que eventualmente conferirão a chancela de sabedor e de cultivado leitor a quem a usa. Uma repugnante ostentação, como uma casa de emigrante de alumínios dourados, fontes luminosas e azulejo multicolor?
Poderia transformar este texto numa autoparódia das elucubrações prévias, pretensamente sérias, embora estas fossem marcadas por uma fuga intencional aos cânones da estrita observância crítica e do estudo das obras literárias de reputação vária.
Restar-me-ia a heterodoxia compilatória e o apelo à elasticidade passional subjacente à pluridisciplinaridade dos leitores-participantes.

Convidei-me para uma autoflagelação.
Li e reli frases iniciais das obras que compõem a minha, porventura modesta mas extensa, biblioteca.
Folheei Saramago – sem ser literal, como as camadas finas de uma cebola de passados celerados, inter alia – uma vez mais sem o ler. Quedei-me pela primeira do último: «No dia seguinte ninguém morreu.»
Sei para onde irei e vou começar por aí…

1 comentário:

Anónimo disse...

então uma boa leitura até:
«…ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.»