quinta-feira, 21 de junho de 2007

Anotações e Transcrições – 9

6.º Passo: Libertação de todos os nossos defeitos de carácter
(seguindo os passos até ao São João)

Um dos traços que define a liberdade de expressão (em potência) da blogosfera é a hipótese de se poder pôr em prática a denominada interactividade dos seus utilizadores de forma quase irrestrita. Um dos veículos que contribui para o reforço dessa tal interactividade, e que se encaixa de forma quase perfeita na benfazeja reciprocidade, é o de manter em funcionamento uma caixa de comentários, apesar dos riscos que lhes estão subjacentes, designadamente o do spam publicitário e o da possibilidade de surgirem os inevitáveis impropérios ou de observações grosseiras (ou mesmo extravasando o limite da decência), falaciosas e de eminente ataque pessoal, completamente fora do espírito preconizado pela própria blogosfera.
Todavia, ciente dessas potenciais ameaças, nunca me passou pela cabeça eliminar a hipótese de dar a liberdade a quem me lê de poder comentar os meus textos, reservando-me sempre ao direito de, como autor de um espaço de liberdade, eliminar aqueles que se revelaram manifestamente ofensivos à luz de um inescapável critério de avaliação pessoal – que outro poderia ser?
Há uns tempos JPP suscitou algum alarido quando, em tom ensaístico, decidiu discorrer sobre “a fauna que enxameia as caixas de comentários” – apesar de aquele não possuir qualquer tipo de caixa de comentários no seu Abrupto, desde que me conheço como blogger. Certeiro em certos tópicos que referiu e desenvolveu a propósito do assunto, acabou por tomar o todo pela parte e resolveu nomear alguns dos excelsos comentadores da blogosfera que, recorrentemente, utilizam as ditas caixas sob pseudónimo, alguns deles até dispunham dos seus próprios blogues.
Ultrapassando todas as questões que tal polémica suscitou, volto a este assunto pelo incentivo de pura criatividade que o meu texto imediatamente anterior deu a este comentador anónimo, ao transformar o mundo dos jovens autores portugueses num grandioso combate de boxe, com vários assaltos, disputado pelas livrarias mais conhecidas deste país. Só não entendo o anonimato…

And now for something completely different…
Mantendo-me no mundo da Literatura, aproveito para descarregar a bílis sobre a tradução, a todos os títulos hiper-realista, de Nuno Batalha do romance Sangue Sábio de Flannery O’Connor (Cavalo de Ferro, 1.ª ed., 2007) do american-english para a língua portuguesa. O afã do tradutor em não trair o pensamento e o fio condutor da narrativa da autora norte-americana é tanto e tão obsessivo que, na minha opinião, acaba por ter, precisamente, o efeito contrário: irritar o leitor e com isso desvirtuar a obra.

Apenas dois exemplos: um injustificadíssimo brasileirismo «marcha-à-ré» (pág. 56) para designar marcha-atrás; e uma, entre centenas, de expressões incomodativamente coloquiais sempre que existe um diálogo «Ah, nã foi nada […] E que tal s’a gente fôssemos ó Walgreen beber um sumo? ‘Inda nã há discotecas abertas a esta hora.» (pág. 36).

E depois… depois, a leitura demora – nem sequer cheguei a meio do livro – e a obra é que paga! Pobre Flannery!...

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