terça-feira, 1 de abril de 2008

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I


Ele leu este anúncio minúsculo no jornal: “Cachorrinhos de Brindle Bull, $3.00 cada.” Ele tinha qualquer coisa como dez dólares, ganhos pelo seu trabalho de pintor de casas, que ainda não havia depositado, porém eles nunca tinham tido um cão em casa. Quando a ideia estoirou na sua cabeça, o seu pai dormia a sua longa sesta, e perguntou à mãe, que se encontrava a meio de um jogo de bridge, se podia ser, que lhe respondeu com um ausente encolher de ombros enquanto atirava uma carta para a mesa de jogo. Ele deambulava pela casa, tentando decidir-se, até que uma sensação se espalhou por ele de uma forma tão súbita, que achou melhor pôr-se a andar, antes que alguém se antecipasse e comprasse o cachorrinho. Na sua cabeça já havia um cachorro em particular que lhe pertencia – era o seu cachorrinho e o cachorrinho já o sabia. Ele não fazia a mínima ideia qual o aspecto dos Brindle Bull, mas o nome soava-lhe a bravo e a admirável. E tinha os três dólares, embora o incomodasse gastá-los no preciso momento em que eles enfrentavam tantos problemas com dinheiro, o seu pai tinha ido de novo à falência. O anúncio minúsculo não mencionava quantos cachorrinhos havia. Talvez houvesse apenas dois ou três, que, por esta altura, já poderiam ter sido vendidos.

A morada indicava a Schermerhorn Street, de que ele nunca tinha ouvido falar. Então, ele telefonou e uma mulher com uma voz roufenha explicou-lhe como lá se chegava e que linha teria de apanhar. Ele vinha da zona de Midwood, da linha elevada do Culver, assim teria de mudar em Church Avenue. Anotou tudo e leu-lhe o que tinha escrito. Graças a Deus, ela ainda tinha os cães. Levou mais de uma hora, mas o comboio ia quase vazio, era domingo, e com uma brisa gelada que vinha das janelas de madeira abertas fazia mais frio que lá fora na rua. Lá em baixo por terrenos baldios pôde ver velhas mulheres italianas curvadas, com as suas cabeças cobertas por lenços vermelhos, enquanto iam enchendo os seus aventais com dentes-de-leão. Os seus colegas de escola italianos disseram-lhe que eram para o vinho e para as saladas. Ele recordou-se de uma vez ter tentado comer um quando jogava à bola no baldio perto de sua casa, mas eram amargos e salgados como lágrimas. O velho comboio de madeira, praticamente vazio, abanava e rangia suavemente através da tarde quente. Passou por cima de um bairro onde viu homens de pé nos acessos às garagens regando os carros, como se de elefantes acalorados se tratassem.

(continua)

(nota: a divisão do conto em capítulos é da minha inteira responsabilidade – Cap. I: 2029 caracteres)

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