quarta-feira, 2 de julho de 2008

Jorge Calma

M., a segunda, veio baralhar ainda mais uma vida que já não era recomendável pelo império da incerteza e pela falta de arrumação. Mas não, tudo o que agora existe é antinomia do arrependimento: não consigo vislumbrá-la, a vida, sem a truculência dos seus 17 meses completados na passada quinta-feira.

Manhã fria e ventosa na Invicta. Seguia pela Fernão de Magalhães, rádio sintonizada na TSF. M. esbracejava, palrava, eu ia ouvindo o normal barulho do velcro dos sapatos que tentava tirar, ela olhava para as curtas vistas que o horizonte lateral fechado pela vigia da temporária embarcação que a levava ao transbordante mar de afectos da avó paterna. M. não parava. Perguntei pela chupeta, um pé descalço baloiçava no ar, até que… um silêncio cúmplice com a música e a voz que se soltaram dos altifalantes, algum sossego, seguido de apenas uns trilos curtos e melódicos, como se quisesse acompanhar o lisboeta cinquentão. Aumentei o volume, naveguei no resto do percurso com os olhos no retrovisor. Terminou: «M. chegámos.»
Voltou a dor de costas. Debruçado sobre o assento traseiro do meu carro de três portas procurava os objectos que se foram soltando até surgir a Calma, Jorge Palma “Encosta-te a Mim”.
Vídeo em baixo. Som na coluna do lado direito durante esta semana.


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