quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Choque

Um pequeno contratempo fez com que regressasse de férias uns dias mais cedo, apesar de ter prontamente estabelecido que a estocada final, nessa sempre efémera palavra, só irá ser dada no domingo à noite por terras durienses.
Quase um mês fora, e a tralha que trouxe ainda se espalha pelos corredores e quartos à espera da habitual triagem: para guardar, lavar, arrumar até para o ano, etc.
Ontem, chegámos tarde e o ritmo ainda é lento, como se actuasse uma força estranha que, de forma perseverante, nos vai impedindo a cessação da boa preguiça adquirida durante esse mês.
Duas da manhã, a casa ficou finalmente em silêncio. Abri o Público, ainda inviolado, que havia comprado à hora do almoço julgando que ainda me esperavam cinco dias pela frente – no Verão, a regra de não dar um cêntimo por jornais costuma ser langorosamente derrogada.
Página 9 do caderno P2. Choque: morreu David Foster Wallace. Obituário de Alexandra Prado Coelho. As presumíveis circunstâncias da sua morte só serviram para acirrar a minha inquietação. O homem tinha tudo para se tornar no grande sucessor dos grandes ficcionistas americanos da segunda metade do século XX… O sucessor de Pynchon, diziam. Dois romances, entre eles o descomunal Infinite Jest de 1996 – o seu segundo e último –, diversos contos, ensaios e peças jornalísticas publicados em diversas colectâneas.
Em Portugal permanece quase desconhecido. Que eu saiba apenas tem um conto traduzido: “Encarnação de uma geração queimada”, na colectânea de jovens contistas americanos Geração Queimada da América, editada pela Bico de Pena e organizada pela realista histérica (qualificativo glosado através de Wood) Zadie Smith. Tal como tive oportunidade de referir na altura, é o melhor conto da desequilibrada antologia.
O desespero…


David Foster Wallace


David Foster Wallace

(Ithaca, Nova Iorque, 21 de Fevereiro de 1962 – Claremont, Califórnia, 12 de Setembro de 2008)

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