sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Literatura: Os Melhores Livros de 2011


Como tem sido hábito desde a fundação deste blogue, que já passou por dois encerramentos e outros tantos regressos com nomes diferentes, a minha fúria listómana termina com a publicação dos melhores livros editados em Portugal durante o ano em causa. Não se trata, porém, de uma novidade, já que sempre existiu uma coluna do lado direito que vai engrossando à medida que novos títulos que emergiram no mercado editorial português vão passando sob os meus olhos ávidos de bibliómano. Infelizmente, a lista deste ano é mais curta que a dos seus predecessores, todavia é sobre ela que exponho, agora numa escala ordenada, os meus encantamentos literários.
Chega o momento de repetir à laia de aviso/disclaimer o processo de selecção:
Ao contrário de qualquer lista publicada nos órgãos de informação convencionais por um ou mais críticos, por meio de qualquer espécie de votação (nem que seja através de uma peroração avaliadora na sua recensão), o único critério que preside à escolha dos livros editados durante o ano para as minhas particulares sessões de leitura e sua posterior classificação (com publicação imediata no blogue) é apenas o meu gosto pessoal por determinados autores, por determinada escola literária ou por certo tipo de narrativas, embora a escolha possa haver resultado da indicação de alguém, seja um crítico literário ou um mero leitor, que me recomendou a sua leitura e, como é óbvio, desde que eu lhe confira algum tipo de autoridade na matéria – há críticos e críticos, e há leitores mais conformes às minhas preferências estético-literárias, mesmo que não os suporte. Assim, este tipo de listagem sofre, à partida, de um vício de forma, e que leva a que a maioria dos livros classificados se situe nos graus mais elevados de apreciação literária: uma escolha apriorística e condicional, sem a isenção que outros terão de apor no processo de selecção da obra a analisar, condição necessária à integridade de um crítico – no plano teórico, claro; não sou tão inocente.
Foram 37 (um não revelado) os livros editados em Portugal no ano de 2011 que passaram sob o meu crivo de bibliómano: 2 foram classificados como “obra-prima” (6 estrelas); 12 com “Muito Bom” (5 estrelas); 14 com “Bom” (4 estrelas); 5 com “A Ler” (3 estrelas); 2 com “Medíocre” (2 estrelas), e mais 1 classificado como “Mau” (1 estrela).

As listas

Os 10 Melhores Livros de 2010 – Ficção
1.º – Julian Barnes, O Sentido do Fim (ed. port. Quetzal; The Sense of an Ending, 2011);
2.º – David Vann, A Ilha de Sukkwan (ed. port. Ahab; Sukkwan Island, 2008);
3.º – Michel Houellebecq, O mapa e o território (ed. port. Alfaguara; La Carte et le Territoire, 2010)
4.º – John Banville, Os Infinitos (ed. port. Asa; The Infinities, 2009);
5.º – Don DeLillo, Ponto Ómega (ed. port. Sextante; Point Omega, 2010);
6.º – Colm Tóibín, Mães e Filhos (ed. port. Bertrand; Mothers and Sons, 2006);
7.º – Philip Roth, Némesis (ed. port. Dom Quixote; Nemesis, 2010);
8.º – Gonçalo M. Tavares, Short Movies (Caminho);
9.º – Don DeLillo, Americana (ed. port. Relógio D’Água; 1971);
10.º – Leonardo Padura, O Homem que Gostava de Cães (ed. port. Porto Editora; El hombre que amaba a los perros, 2009).

Menções Honrosas (livros que poderiam ocupar, por troca ou em simultâneo, os dois últimos lugares do Top 10, ordenados pelo nome próprio do autor)
  • Howard Jacobson, A Questão Finkler (ed. port. Porto Editora; The Finkler Question, 2010);
  • Jonathan Franzen, Liberdade (ed. port. Dom Quixote; Freedom, 2010).

Os 3 Melhores Livros de 2011 – Não-Ficção (este ano reduzida a 3 títulos)
1.º – Joseph ONeill, Rasto Negro de Sangue – Uma História de Família (ed. port. Bertrand; Blood-Dark Track: A Family History, 2001);
2.º – Patti Smith, Apenas Miúdos (ed. port. Quetzal; Just Kids, 2010);
3.º – Saul Bellow, Jerusalém, Ida e Volta – Um Relato Pessoal (ed. port. Tinta-da-China; To Jerusalem and Back: A Personal Account, 1976).

Memória (os meus melhores desde 2005)
2005Kazuo Ishiguro, Nunca Me Deixeis (ed. port. Gradiva; Never Let Me Go, 2005)
2006Vladimir Nabokov, Convite para uma decapitação (ed. port. Assírio & Alvim; Priglasheniye na kazn, 1936)
2007 – (2 obras em igualdade) Colm Tóibín, O Mestre (ed. port. Dom Quixote; The Master, 2004) & Jonathan Littell, As Benevolentes (ed. port. Dom Quixote; Les Bienveillantes, 2006)
2008Robert Musil, O homem sem qualidades, volumes I e II (ed. port. Dom Quixote; Der Mann ohne Eigenschaften, 1930-1942)
2009John Updike, Coelho em Paz (ed. port. Civilização; Rabbit at Rest, 1990)
2010Saul Bellow, As Aventuras de Augie March (ed. port. Quetzal; The Adventures of Augie March, 1953).

Finalmente, um breve excerto do melhor, para além do que aqui já foi dito em tempo oportuno e que se reflecte também nesta citação arrancada a um todo deslumbrante (no texto abaixo optou-se por uma transcrição ipsis verbis, seguindo-se, por isso, a opção da editora pela regras do abstruso e Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa; para além da incompreensível troca de artigos, o indefinido pelo definido, na tradução do título da obra para a nossa língua):
«Que sabia eu da vida, eu que vivera com tanto cuidado? Que não ganhara nem perdera, mas só deixara que a vida me acontecesse? Que tinha as ambições comuns e me adaptara demasiado cedo a que elas não se realizassem? Que evitava ferir-me e chamava a isso capacidade de sobrevivência? Que pagava as minhas contas, estava de bem com toda a gente na medida do possível, mas para quem o êxtase e o desespero depressa se tornaram meras palavras, lidas outrora nos romances? Eu, cuja autocensura nunca infligia realmente dor? Pois, havia tudo isto para refletir, enquanto eu passava por um tipo de remorso especial: uma dor finalmente infligida a alguém que sempre pensou saber como evitar ser magoado – infligida por essa mesma razão.»

Julian Barnes, O Sentido do Fim, p. 144 [Lisboa: Quetzal, Novembro de 2011, 152 pp.; tradução de Helena Cardoso; obra original: The Sense of an Ending, 2011]

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cinema: Os Melhores Filmes de 2011 e não só…

Momento da revelação.
Da decisão já tomada na passada sexta-feira, dos 21 filmes seleccionados como os melhores do ano, saíram duas listas: a primeira com o “Top 10+” (hierárquico) dos melhores filmes do ano, que inclui 4 produções norte-americanas; a segunda (Menções Honrosas) contém 7 filmes que, pela sua qualidade, merecem da equipa editorial unipessoal deste blogue o devido destaque, e que inclui 2 filmes produzidos nos EUA, porém sem qualquer ordem de preferências – essas já foram manifestadas ao deixar os restantes 4 filmes de fora. E ainda houve tempo para a elocução de um Parafilme.

Os 10 Melhores Filmes de 2011 (Top 10)
  1. A Árvore da Vida, de Terrence Malick (The Tree of Life, 2011);
  2. Essential Killing – Matar para Viver, de Jerzy Skolimowski (Essential Killing, 2010);
  3. Melancolia, de Lars von Trier (Melancholia, 2011);
  4. Uma Separação, de Asghar Farhadi (Jodaeiye Nader az Simin, 2011);
  5. Cisne Negro, de Darren Aronofsky (Black Swan, 2010);
  6. Um Ano Mais, de Mike Leigh (Another Year, 2010);
  7. Carlos, de Olivier Assayas (2010);
  8. Meia-Noite em Paris, de Woody Allen (Midnight in Paris, 2011);
  9. Super 8, de J.J. Abrams (2011);
  10. A Pele Onde Eu Vivo, de Pedro Almodóvar (La piel que habito, 2011).

Menções Honrosas (por ordem alfabética do título em português):
  • O Atalho, de Kelly Reichardt (Meek’s Cutoff, 2010);
  • Kaboom – Alucinação, de Gregg Araki (Kaboom, 2010);
  • Um Método Perigoso, de David Cronenberg (A Dangerous Method, 2011);
  • O Miúdo da Bicicleta, de Jean-Pierre & Luc Dardenne (Le gamin au vélo, 2011);
  • Num Mundo Melhor, de Susanne Bier (Hævnen, 2010);
  • Sangue do Meu Sangue, de João Canijo (2011);
  • A Toupeira, de Tomas Alfredson (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011)
Elocução do Parafilme – Menção Honrosa
É impossível ficar-se indiferente perante a peça tripartida lançada pelo eterno JLG, um dos dois sobreviventes dos cinco grandes cineastas cahieristas.
Intrusivo, abusador e críptico, porém enérgico, desafiador e interrogativo (embora jamais admita a resposta unívoca, proíbe-a até pela exigência de uma meditação na chusma de imagens que se sucedem e que advêm dos mais variados artefactos contemporâneos sugadores de imagem, quer seja uma câmara digital, quer a de um telemóvel com o som estrídulo, ácido, nauseante e penetrante). O Cruzeiro, Quo Vadis Europa (a nossa… liberdade e federalismo), As Nossas Humanidades… «Quando a lei não é justa, a justiça impõe-se à lei.» [Sem Comentários] – a veia libertária de JLG, um dos raros génios vivos que ainda subsiste sem convenções.
O melhor Parafilme de 2011 com filme no título:
  • Filme Socialismo, de Jean-Luc Godard (Film Socialisme, 2010).

Como é habitual nestes jogos florais de fim de ano, divulgo uma lista de filmes putativamente importantes que não pude ver (por diversos motivos, sendo o principal a sua não estreia por terras da Invicta). Este ano indico 8 filmes “não-vistos” que, de acordo com a crítica e a opinião de pessoas que reputo de bom juízo cinéfilo, seriam susceptíveis de alterar a ordem e o conteúdo das listas acima referidas (por ordem alfabética do título em português):
  • 50/50, de Jonathan Levine (2011);
  • Autobiografia de Nicolae Ceausescu, de Andrei Ujica (Autobiografia lui Nicolae Ceausescu, 2010);
  • Histórias de Shanghai – Quem Me Dera Saber, de Zhang Ke Jia (Hai shang chuan qi, 2010);
  • Incendies – A Mulher que Canta, de Denis Villeneuve (Incendies, 2010)
  • Inquietos, de Gus Van Sant (Restless, 2011);
  • Pater, de Alain Cavalier (2011);
  • Poesia, de Lee Chang-Dong (Shi, 2010);
  • Road to Nowhere – Sem Destino, de Monte Hellman (Road to Nowhere, 2010).
Finalmente, os meus Razzies (como tem sido hábito ao longo dos anos). Entre os filmes que tive a oportunidade de ver este ano, considerei, após aturada reflexão, 13 como simplesmente deploráveis, e que integram a última lista de 2011 a surgir neste blogue ligada à 7.ª arte: O “Top 10-”.
Os 10 Piores Filmes de 2011 (ordenados da 1.ª à 10.ª posição, ou seja, do pior ao menos mau):
  1. O Hospício, de John Carpenter (The Ward, 2010);
  2. A Conspiradora, de Roberd Redford (The Conspirator, 2010);
  3. Biutiful, de Alejandro González Iñárritu (2010);
  4. Assim É o Amor, de Mike Mills (Beginners, 2010);
  5. O Discurso do Rei, de Tom Hooper (The King’s Speech, 2010);
  6. O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, de Apichatpong Weerasethakul (Loong Boonmee raleuk chat, 2010);
  7. Cliente de Risco, de Brad Furman (The Lincoln Lawyer, 2011);
  8. Angèle e Tony, de Alix Delaporte (Angèle et Tony, 2010);
  9. Drive – Risco Duplo, de Nicolas Winding Refn (Drive, 2011);
  10. Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos, de Woody Allen (You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010).

Notas: (1) Os filmes estreados durante o ano 2011 em salas de cinema portuguesas, incluem os estreados a 30/12/2010.
(2) Os filmes a estrear no próximo dia 29 serão incluídos na análise cinematográfica de 2012, por manifesta falta de oportunidade para os poder ver e avaliar.

Mistério (deste) Universo

Blogosfera. Dentro em pouco revelado. Um caminho…
«Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra? (...) entre as aclamações dos astros da manhã e o aplauso de todos os filhos de Deus?»
Job 38: 4, 7

domingo, 25 de dezembro de 2011

Cinema: Os Melhores Filmes de 2011 – semifinalistas


Esgotadas todas as possibilidades de poder assistir a mais filmes estreados em salas de cinema portuguesas até ao fim de 2011, manifestei aqui que dos 46 filmes (número muitíssimo abaixo da média dos últimos anos, que nem sequer perfaz a de 1 filme por semana), 21 foram considerados como bons ou muito bons, e em alguns casos como obras-primas.
Programada para publicação no dia de Natal de 2011 desde a passada sexta-feira (dia 23), eis a listagem completa dos 21 filmes que, na minha mui pessoal e inalienável opinião, e por um conjunto de razões facilmente descritíveis e de emoções na maioria das vezes inexplicáveis, mais encheram as minhas medidas de cinéfilo (este ano pouco praticante, como se depreende pelos números). Filmes organizados por ordem alfabética do título em português):
  • Um Ano Mais, de Mike Leigh (Another Year, 2010);
  • A Árvore da Vida, de Terrence Malick (The Tree of Life, 2011);
  • O Atalho, de Kelly Reichardt (Meek’s Cutoff, 2010);
  • Carlos, de Olivier Assayas (2010);
  • Cisne Negro, de Darren Aronofsky (Black Swan, 2010);
  • Essential Killing – Matar para Viver, de Jerzy Skolimowski (Essential Killing, 2010);
  • Filme Socialismo, de Jean-Luc Godard (Film Socialisme, 2010);
  • Kaboom – Alucinação, de Gregg Araki (Kaboom, 2010);
  • Meia-Noite em Paris, de Woody Allen (Midnight in Paris, 2011);
  • Melancolia, de Lars von Trier (Melancholia, 2011);
  • Um Método Perigoso, de David Cronenberg (A Dangerous Method, 2011);
  • A Minha Versão do Amor, de Richard J. Lewis (Barney’s Version, 2010);
  • O Miúdo da Bicicleta, de Jean-Pierre & Luc Dardenne (Le gamin au vélo, 2011);
  • Num Mundo Melhor, de Susanne Bier (Hævnen, 2010);
  • A Pele Onde Eu Vivo, de Pedro Almodóvar (La piel que habito, 2011);
  • Sangue do Meu Sangue, de João Canijo (2011);
  • Uma Separação, de Asghar Farhadi (Jodaeiye Nader az Simin, 2011);
  • Somewhere – Algures, de Sofia Coppola (Somewhere, 2010);
  • Super 8, de J.J. Abrams (2011);
  • A Toupeira, de Tomas Alfredson (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011);
  • Tulpan, de Sergei Dvortsevoy (2008).

 Publicação dos “10 Melhores Filmes de 2011” para breve.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal


Deixo-vos, em jeito de presente, com uma das melhores canções de Natal de sempre.
Escrita por Shane MacGowan e Jem Finer, composta pelos saudosos e dilectíssimos The Pogues e cantada num dueto perfeito e sublime por MacGowan e a desafortunada Kirsty MacColl – morta aos 41 anos, uma semana antes do Natal do ano 2000, num estranhíssimo acidente com uma lancha rápida conduzida por um daqueles todo-poderosos magnatas mexicanos («They’ve got cars big as bars / They’ve got rivers of gold») ao largo da lindíssima Ilha de Cozumel enquanto Kirsty com a sua família fazia mergulho (escusado será dizer que o multimilionário saiu praticamente impune, um homicídio por amendoins em pesos).
É com uma estranha melancolia que ouço esta canção, num época que por definição deveria exaltar ou fazer emergir tudo o que de positivo existe em nós; este negrume não me abandona e o nó na garganta adensa-se a cada ano que passa, e vou alvitrando justificações para uma mente inquieta: talvez porque no deste ano se celebra o 10.º aniversário do último que passei, no coração da bela e sinuosa Montmartre, junto de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Perdoem-me o pathos.
Desejo-vos um Feliz Natal, independentemente do credo professado, mas apenas com o simbolismo e o espírito da quadra.
Eis the bum Shane, que entre the old slut Kirsty:


It was Christmas Eve babe
In the drunk tank
An old man said to me, won’t see another one
And then he sang a song
The Rare Old Mountain Dew
I turned my face away
And dreamed about you

Got on a lucky one
Came in eighteen to one
I’ve got a feeling
This year’s for me and you
So happy Christmas
I love you baby
I can see a better time
When all our dreams come true

They’ve got cars big as bars
They’ve got rivers of gold
But the wind goes right through you
It’s no place for the old
When you first took my hand
On a cold Christmas Eve
You promised me
Broadway was waiting for me

You were handsome
You were pretty
Queen of New York City
When the band finished playing
They howled out for more
Sinatra was swinging,
All the drunks they were singing
We kissed on a corner
Then danced through the night

The boys of the NYPD choir
Were singing “Galway Bay
And the bells were ringing out
For Christmas day

You’re a bum
You’re a punk
You’re an old slut on junk
Lying there almost dead on a drip in that bed
You scumbag, you maggot
You cheap lousy faggot
Happy Christmas your arse
I pray God it’s our last

I could have been someone
Well so could anyone
You took my dreams from me
When I first found you
I kept them with me babe
I put them with my own
Can’t make it all alone
I’ve built my dreams around you

Fairytale of New York
(MacGowan & Finer; The Pogues)
The Pogues, If I Should Fall from Grace with God (1988, WEA)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cinema 2011: Contagem Encerrada


Com a sessão dupla de ontem, terminei o visionamento dos filmes estreados nas salas de cinema portuguesas durante o ano de 2011.
Num ano em que tive muito poucas oportunidades de me deslocar a uma sala cinema e em que o fenómeno Medeia continua a condicionar as possibilidades de uma maior abrangência cinematográfica, uma primeira e rápida análise revelou que dos cerca de 274 filmes* estreados (não inclui aqueles que desfilaram em festivais de cinema, até porque aqui por cima – o Norte, como les gusta – há apenas um a sério e a vontade de o liquidar pelo centralismo voraz e seus sequazes aumenta a cada ano que passa – outrora o mais importante festival de cinema realizado em Portugal e com maiores repercussões na indústria cinematográfica internacional, agora ultrapassado pelo de Sitges) foram:
  • Vistos: 46 filmes
  • Apreciados: 21 filmes (entre estes, 8 foram produzidos nos Estados Unidos);
  • Abominados: 13 filmes (desta cifra medonha e anatemática, 9 foram produzidos pela indústria cinematográfica norte-americana).
  • Indiferentes: os restantes 12 filmes, ou neutros/inócuos, de alguns até já me havia esquecido de que os tinha realmente visto (tive de ler algumas sinopses para confirmar, já que o título permanecia num esconso diasloureiriano da minha memória), e adianto que neste grupo se encontra o incensado, idolatrado, náuseo-osculado Habemus Papam – Temos Papa (2011), da estrela (para mim cadente, tal como a que fica na ponta da foice) da esquerda intelectual europeia Nanni Moretti – ai que saudades de Palombella Rossa (1989) ou de Querido Diário (Caro Diario, 1993), entre outros.
Seguir-se-á o habitual processo de selecção em três fases: semifinalistas (21 filmes – este ano esta lista é mais curta dadas a vicissitudes relatadas acima); finalistas (17); vencedores (Top 10, organizados por ordem de preferência).

Nota: *Inclui os filmes estreados a 30 de Dezembro de 2010. Os a estrear no próximo dia 29, por razões de operacionalidade festiva e porque a eles não me foi dada a benesse do acesso antecipado, integrarão as listagens do próximo ano.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Música: Melhores Álbuns de 2011 – A Lista


Encerra-se a primeira etapa deste blogue no que respeita à minha listomania que recidiva com uma virulência inusitada no final de cada ano. Desde o dia da Imaculada Conceição, os meus gostos musicais, substanciados nos vídeos que por aqui desfilaram, foram gerados com a mácula de não ter tempo, por um lado, e de me ir faltando a paciência necessária para as artes musicais do que se produz actualmente na vertente contemporaneamente apelidada de “Pop/Rock”. Daí que houvesse afirmado que a minha veia pubertária ainda se manifeste nas minhas assaz particulares escolhas/preferências – e sem dar grande margem à influência opinativa externa – nos álbuns de música editados em 2011.
Como mencionei em 2010, muitos (centenas) que me poderiam tocar ficaram por ouvir, a que não é alheia a (minha) nossa decadência física – vamos perdendo indelevelmente a audição e as cambiantes de um produto que se faz apenas ouvir perde terreno frente à ebulição do que é visual, qual imberbe perante a iridescência feérica da imagem. 
Resumindo e indo directamente ao assunto sem mais floreados, neste jogos florais que são um vício confessado deste que vos escreve, entre o muito pouco que pude escutar de um modo decente, houve 10 álbuns editados originalmente em 2011 que se destacaram dos demais, e outros (poucos, em 2011) que se revelaram uma decepção, por vezes dolorosa, já que admiráramos de uma forma visceral, a raiar o fundamentalismo melómano, os seus intérpretes como deuses, mas que, como cupidos de Brueghel, se deixaram cair nas garras do grotesco; traduzindo: quando “parar” lhes significará decerto “morte” e jamais soará como “empobrecimento” ou “fatal decadência”.
Sem mais, eis a lista de Os Melhores Álbuns Musicais de 2011 (ordem de preferência):

  1. – The Horrors, Skying (XL)
  2. – Iceage, New Brigade (What’s Your Rupture)
  3. – Bill Callahan, Apocalypse (Drag City)
  4. – St. Vincent, Strange Mercy (4AD)
  5. – Thurston Moore, Demolished Thoughts (Matador)
  6. – Radiohead, The King of Limbs (XL)
  7. – Arctic Monkeys, Suck It and See (Domino)
  8. – John Maus, We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves (Upset the Rhythm)
  9. – The Strokes, Angles (RCA)
  10. – Bon Iver, Bon Iver (4AD)
De entre várias decepções (pouco ouvidas – e uma vez mais, devido ao grau de pachorra decrescente ante a causa auditiva), destaco apenas três (poderia incluir o 2.º álbum dos nova-iorquinos The Drums, Portamento, mas falta-lhes ainda tempo para a consolidação do estilo), apenas porque a ferida aberta cominada pelo horror estético ainda permanece aberta – nada que um bom antibiótico não ataque findo este período de profunda desilusão.

Decepções Musicais de 2011 (por ordem alfabética do nome do intérprete musical):
  • Panda Bear, Tomboy (Paw Tracks)
  • Peter Murphy, Ninth (Nettwerk)
  • Tv on the Radio, Nine Types of Light (Interscope)
Não refiro este ano uma banda sonora de um filme, pois não me recordo de alguma que, sendo original, uma compilação ou uma mistura de ambas, me tenha tocado a veia sensível.
Porém, não poderia deixar de dedicar um último parágrafo listómano para referir um álbum cuja tranquilidade de eminência country de uma banda do Oregon, EUA me induziu, e em particular, o seu “January Hymn”. Assim, em jeito de “Menção Honrosa”, que poderia ter entrado no “Top 10”, não fosse o meu vergonhoso conhecimento superficial do folclore musicado norte-americano e o declarado desconhecimento do trabalho anterior da banda (ignorância exposta):
  • The Decemberists, The King is Dead (Rough Trade)
PS – Para 30 ou 31 de Dezembro as listas dos “Melhores Livros de 2011 (editados em Portugal), nas categorias ficção e não-ficção. Entre 23 e 26 de Dezembro serão publicadas as listas dos “10+”, “10-” e menções honrosas no texto dedicado aos “Melhores Filmes de 2011 (estreados em salas de cinema portuguesas).


PPS – Fica aqui mais um vídeo de uma das faixas do álbum vencedor deste ano. A prodigiosa e revivalista “I Can See through You”:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cocky & Tacky (como prometido)


Depois do 6.º aniversário desta coisa e, não vindo a talho de foice – a questão é mesmo uma ceifa apocalíptica sanjoanina evangelista, com direito a trombetas e a juízo (o muito que escasseia, não só por aqui…) Onde ia? Ah! E por haver falado nesse dia festivo num greasy cocky, ligando-o ao momento presente em que me debato por rememorar os poucos filmes que passaram pelos meus olhos (por comparação com anos anteriores) estreados em Portugal durante o ano em causa, emergiu a cockiest moda fílmica do ano que se apelida (enrolando línguas) Apichatpong Weerasethakul e o seu tacky-picture O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, escolhido por aquela coisa chamada Tim Burton que encabeçava um grupo que premiou Javier Bardem pela sua interpretação no horrendo Biutiful (look at the pun, there) e que incluía, inter alia, o canastrão Benicio, a presumivelmente douta Beckinsale, o requisitado Desplat (qualquer dia musica até a Casa dos Segredos), a menina “Meio-Dia” (que, conceda-se, tem uma interpretação soberba no fabuloso Vincere de Bellocchio), ou o recalcitrante indiano isabelino.
E uns tempos depois, vendo-o no grande ecrã, reflecti sobre a origem da náusea e concordei com os poucos que ousaram profanar a transmigração das almas de escolha burtoniana, como já mencionei aqui naquele dia fatídico, e reproduzo um par de frases que me fez rir de satisfação:
«Uncle Boonmee believes his encroaching kidney failure is karmic retribution for having killed “too many commies,” as well as “lots of bugs.” The viewer is free to calculate how many domestic-terrorist insects he may have palled around with.» (TheBoston Phoenix)
Hã? Fustigação ou zurzidela? Não me preocupa, até porque hoje, à hora de publicação deste texto, passeio-me certamente, findos os afazeres, pela Galleria Vittorio Emanuele II, percorrendo lentamente o trilho urbano entre o Teatro alla Scala e il Duomo.


In bocca al lupo a tutti giovani e spavaldi cinefili, e dai giudizi affrettati degli altri!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – A. Monkeys



"Don't Sit Down 'Cause I've Moved Your Chair"
Arctic Monkeys – Suck It and See 
(Domino)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

sábado, 17 de dezembro de 2011

O que fica abaixo do Básico?



Seis anos a aturar-me na blogosfera. Pela cadência de publicação de textos e pela decadência dos assuntos profusamente enfeitados de figuras, gráficos e vídeos, o 1.º ano do 1.º Ciclo atirou-me, sem me perguntar, para o 2.º patamar… do básico. E, na óptica, basicamente, do blogueiro (obrigado ao Rui Santos e ao Brylcream que amansam os seus caracóis neuronais tumultuosos – o nosso B.Boy, perfectly set for the day!) daqui não sairei tão cedo.
Obrigado aos meus 12 seguidores e aos outros 12 que, na óptica do paradigma do internauta distraído, basicamente caem aqui por acaso.


PS – por falar num greasy cocky mf, apeteceu-me de imediato falar de um filme, cuja exteriorização do meu estado de alma por si estimulado poderá ou não surgir neste espaço – até porque já está escrito –, e que tem funcionado como bandeira da jactância pequeno-burguesa dos que se impingem no grupo restrito da cinefilia lusa. Básico (como o rudimentar espúrio, que me levou aos adjectivos seguintes): cocky & tacky, numa espécie de panlinguismo zurzidor. A ver vamos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Bon Iver



"Holocene"
Bon Iver – Bon Iver 
(4AD)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Horrors



"Still Life"
The Horrors – Skying 
(XL)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Conduz-me aos verdes prados…



E a cada ano que passa há sempre pelo menos uma fantasia fúchsia, glamorosa púrpura garrida, deste calibre. Um filme inenarrável que uma pesada turba (de dedo sensível) incensa e a indústria segue – até Cannes se rendeu ao fogo-de-artifício danês, que se assemelha (e muito) à penosa e descoroçoante rendição da imprensa estrangeira acreditada em Hollywood, quando, em Dezembro do ano passado, num impulso arrebatador desferiu um golpe na 7.ª arte ao benzer, com três nomeações, o refugo fílmico O Turista (The Tourist, 2010) do promissor realizador germânico Florian Henckel von Donnersmarck.
Muito virtuosismo arraialesco dedicado pelo realizador dinamarquês ao produto final: com um argumento abaixo de sofrível; uma interpretação mil vezes repetida por Gosling (o pseudo-estóico, o passivo-insensível que chama a si todos os males para salvar o mundo, quase uma figura hierática, mono-expressiva e uma mescla de canastrão-redentor, condenado ao papel do novo messias); uma Carey Muligan desgraçadinha e lacrimejante para quem já não há pachorra. Então o restante elenco… é de uma boçalidade e histrionia gritantes, tendo como epítomes Albert Brooks e Ron Perlman Penitenziagite!
Drive – Risco Duplo (Drive, 2011) não é do pior que se fez no ano, mas seguramente é um dos filmes visualmente mais desonestos da temporada, e aí ter-se-á de tirar o chapéu a Refn, tal é o engodo que oculta a massa consistente com flashes de tuning, bem ao jeito dos amantes do oleoso Overhaulin’ e do mentor Chip Foose, que escapa ao mais incauto “estrelador” precoce.

Termino, manifestando a minha concordância completa com a avaliação do Luís Miguel Oliveira. Este péssimo produto nas mãos de um Mann talvez valesse para o gasto do bilhete e a reparação dos danos estéticos. E digo mais, até um Bryan Singer provavelmente o faria melhor. E é pena porque o realizador (agora com 41 anos), Nicolas Winding Refn, até teve um começo auspicioso no circuito internacional com o subavaliado Fear X de 2003, cujo excelente argumento foi compartilhado com o excêntrico e corrosivo Hubert Selby Jr., pouco tempo antes de morrer. Porém, (o auspicioso é pessoal e em nada irónico) Refn tinha apenas 32 anos e o filme valeu-lhe o dissabor da falência – porventura foi daí que veio a grande mossa que o conduziu pela sinuosidade festivaleira das piores colinas de Hollywood. É meter-lhe um chip de potência.

Música: Os melhores álbuns de 2011 – St. Vincent



"Cruel"
St. Vincent – Strange Mercy 
(4AD)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Radiohead



"Lotus Flower"
Radiohead – The King of Limbs 
(XL)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Iceage



"White Rune"
Iceage – New Brigade 
(What's Your Rupture)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

domingo, 11 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Strokes



"Under Cover of Darkness"
The Strokes – Angles 
(RCA)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

sábado, 10 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Sonic Thurston



"Circulation"
Thurston Moore – Demolished Thoughts 
(Matador)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – Callahan



"Riding for the Feeling"
Bill Callahan – Apocalypse 
(Drag City)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Música: Os melhores álbuns de 2011 – J. Maus



"Believer"
John Maus – We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves 
(Upset the Rhythm)

Nota: Todos os dias às 10 da manhã em ponto, revelação, por ordem aleatória, de um dos dez melhores álbuns musicais do ano (a lista definitiva do Top 10, organizada por ordem de preferência, será publicada num dos dias que se seguem à exibição do último dos dez álbuns).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

As Listas de 2011


Apesar do induzido estado de adormecimento blogueiro durante o ano de 2011, motivado, por um lado, pelo esmorecer do encanto de dizer ao mundo aquilo que perpassa por esta mente em tumulto perene e, com maior acuidade, pelos trabalhos acrescidos pouco rentáveis a que fui sujeito, não poderia terminar o 6.º ano de actividade deste blogue (próximo dia 17) sem revelar as minhas listas de preferências sobre as três áreas artísticas mais presentes na torrente desordenada de textos que o constitui e que já se aproxima do milhar e meio.
Assim, sem grande novidade ao que aqui ocorreu no anterior (excepto na sua ordenação), passarei a postar diariamente as minhas predilecções musicais (como se irá ver, ainda com alguma irreverência pubertária nas veias), por ordem aleatória, apenas revelando a listagem final organizada por ordem de preferência, o meu “Top 10” de álbuns originalmente editados à escala mundial durante 2011, no final do mês (dia ainda indefinido) – os dez vídeos estão a partir de hoje programados para surgir neste blogue à mesma hora numa base diária.
Na secção “Cinema” (filmes exibidos pela primeira vez em sala de cinema em Portugal), e dadas a estreias que ainda irão ocorrer até ao final do ano (onde se excluem os que estrearão a 29 de Dezembro – serão incluídos na lista de 2012, se por cá andar – e incluem os estreados a 30 de Dezembro do ano passado, tal como foi prometido), o “Top 10” será revelado em vésperas natalícias – embora creia que as estreias que se avizinham em pouco ou nada contribuirão para alterar a opinião já formada.
Nos “Livros” editados em Portugal durante 2011, e como sempre tem ocorrido, as novidades não serão grandes, porquanto ao longo do ano aqueles que vou lendo vão sendo ordenados por prazer literário na coluna do lado direito deste blogue – apenas se espera a introdução de mais um ou dois exemplares cujo processo de leitura se encontra em curso e em velocidade de cruzeiro. Publicação final do “Top 10” prevista para 30 ou 31 de Dezembro.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ASSOMBROSO


(Sem mais comentários)

Aqui e agora só me resta deixar isto:

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Memória


Nada de resenhas, críticas, ou pseudo-recensões – ainda me vergastam pela foice cravada na seara dourada deles. Trata-se apenas da exteriorização de um desassossego. Perdão! Fui assombrado pelo quarteto de palavras que formam a frase que encerra a centena e meia de páginas deste aqui ao lado – o Booker Prize deste ano. Talvez aquele que nos últimos dois ou três anos mais fez vibrar a corda sensível da minha condição de leitor ávido: «Há uma grande agitação.» [There is great unrest] – unrest.
     
Acumulação.
Seguimos com as nossas vida sem perceber… nunca percebemos. Caminhos trilhados a remover obstáculos que se vão acumulando, formando muros insuperáveis para quem outrora nos rodeou e seguia os nossos passos; e quando olhamos para trás apenas vislumbramos vultos difusos, uma memória esparsa que se foi enterrando nos escombros do quotidiano pelo egoísmo intrínseco à nossa subsistência.      
Responsabilidade.
A tomada de consciência. O despertar da memória – puxar os fios soltos que adejam ao vento, radicados ao solo estéril, que a libertam do entulho opaco, infecto e nauseabundo –, a miséria humana. A culpa pela dor atroz infligida.  
Agitação.
Não há reparação, nem nunca iremos perceber que todos os actos praticados com esse fim apenas irão servir para ampliar o sofrimento provocado. Resta o remorso:
«Às vezes penso que a finalidade da vida é reconciliar-nos com a sua eventual perda esgotando-nos, e provando, por muito tempo que leve, que a vida não é tão boa como se diz.»

Julian Barnes, O Sentido do Fim, pág. 109

[Lisboa: Quetzal, Novembro de 2011, 152 pp.; tradução de Helena Cardoso.]