domingo, 15 de janeiro de 2012

Dos aventais


Nada contra. Não sou um gourmet, mas gosto de comer em bons restaurantes de cujas cozinhas emanam pratos com assinatura, e gosto sempre que o autor cortesmente ausculte a minha opinião, de avental alvo, sobre o nível de prazer na degustação do prato. Ao mesmo tempo, é uma peça de tecido com história, que me faz lembrar aquele Portugal rural que se foi perdendo – o do pequeno comércio porta a porta, os marçanos ou o do bulício serviçal. Por exemplo, a criadagem com os miúdos no jardim; a leiteira azeda a esborrachar os pacotes de leite pré-“Tetra Pak” nos alpendres das moradias; da peixeira com as notas de conto no regaço, fazendo trocos nas casas das senhoras, trocando cavalas por mil reis que se juntavam a mais outros tantos amarfanhados, envoltos em escamas e vísceras que escaparam ao produto vendido. Hoje, tudo isso foi substituído pela desprezível bata florida.
Agora dessa coisa dos pedreiros e dos chãos em xadrez – embora, neste caso, ignore o facto de algum lá ter ido parar (sim, isso mesmo, ao xadrez), os irmãos ajudam sempre –, os poucos que conheci – e que me garantiram tratar-se de aventaleiros da estirpe críptica, filhos de Ísis e Osíris –, ou eram uns filhos da puta e/ou criminosos e/ou políticos, juízes, procuradores e professores catedráticos. Apesar de ser um fã do James (em especial no drama pedo-nabokoviano-kubrickiano e no magistral North by Northwest, com a música retumbante do Bernardo SenhorHomem), das batidas do Nick, e de na minha juventude não perder as histórias a preto e branco do Perry, por manifesto azar, pessoalmente nunca me cruzei com um Mason-livre de avental imaculado e que disputasse as qualidades de humanista e/ou benemérito e/ou íntegro, as mesmas que ultimamente, numa operação de desespero ou de marketing do desespero, têm vindo a apregoar.
Contudo não gosto de generalizações. E não pretendo aplicar à minha, decerto curta, experiência o método indutivo. Até porque dispõem de um olho que tudo vê, e em terra de cegos… Ele há-de haver os que são bons.