sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fincherianismo


Ah, como gosto de ler João Lopes quando escreve sobre Cinema (a arte, assim grafada). Não vou fazer a apologia de todo o seu saber acumulado e da natural consequência de, com propriedade, usar e abusar do cinema comparado. É um fincheriano convicto e não adianta negá-lo (em boa verdade nunca o negou, embora nunca o tenha confirmado). E mesmo estando numa torturante contagem decrescente para ver Millennium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011), não posso deixar de concordar com a parte que remete para o todo (de outra forma não poderia ser, por via da razão avocada: ainda não o vi), o universo inebriante de Fincher, incluída neste extracto de um texto do eminente crítico nacional sobre Fincher no DN de quarta-feira, 18:
«Daí a estranha beleza de Millennium 1: por um lado, há nele uma urgência face ao concreto do nosso mundo que lhe confere a dimensão de parábola sobre a persistência do Mal e o fim de todos os romantismos; por outro lado, vivemos uma aventura tocada pela abstra[c]ção formal. É tempo de acreditarmos que Howard Hawks tem, finalmente, um herdeiro moderno.»
Mas esta é a velha questão do subtexto fincheriano, que muitos ou não vislumbram (limitação, é uma pena), ou vislumbrando não pretendem dar a conhecer por um velho apriorismo de que não se conseguem libertar (má-fé). Como entender, por exemplo, Clube de Combate (Fight Club, 1999) sem nos embrenharmos (apreender) na sua beleza subliminar, latente em cada fotograma, incrustada pelo realizador de Denver?