terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Um paliativo para a ressaca

Como um confesso viciado em DF, contento-me, por vezes, com uns fogachos diáfanos de espanto – pequenos fragmentos, insatisfatórios até, por onde passaram as mãos do mestre, numa época do ano em que se esbanjam elogios em folha de ouro, dedicados à obra menor e que acabam por dar relevo àquilo que realmente nos fere a alma pela sua manifesta mediania abroncada.
Em suma, adaptando as palavras do gigante literário oitocentista, a celebração do medíocre através da sua consagração pela nomenclatura do Santo Artifício Visual, em detrimento de outros técnica, estética e, até, eticamente mais habilitados na inovação e no progresso artísticos, é de um miserabilismo intolerável, não se vislumbrando um fim nos tempos mais próximos:
«(…) il y a un point où les infortunés et les infâmes se mêlent et se confondent dans un seul mot, mot fatal, les misérables (…)»*
Victor Hugo, Les Misérables, 1862 (Tome III, Livre huitième, Chapitre V).
Atenção: This not a film…



«We'll cleave you from the herd and watch you die in the wilderness.»

Como explicava há cerca de dois meses Forrest Wickman na Slate, e que os espectadores em geral já há muito compreenderam, hoje, nos Estados Unidos, a fronteira entre televisão e cinema tornou-se ainda mais difusa; fenómeno que, no caso em questão, se evidencia, não só pela primeira incursão de Fincher no mundo da televisão ou pelo surgimento de Spacey ao fim de 20 anos de ausência, mas pelos valores envolvidos na produção e pelo próprio trailer, bem ao estilo cinematográfico, longe dos habituais e insípidos spots televisivos.

A dor foi aplacada.

Nota: *Numa tradução livre (perante a ausência do livro nas nossas palavras no momento de redacção deste texto):
«existe um ponto em que os infelizes e os infames se misturam e se confundem numa só palavra, palavra fatal, os miseráveis».